sábado, 20 de abril de 2013

Estrelas cadentes


Ter intenções diferentes ao se montar uma banda é legítimo. Há desde aqueles que querem apenas curtir o momento a aqueles que pensam em construir carreira. Há também aqueles que simplesmente não pensam em nada, apenas plugam os cabos e tocam.
A falta de objetivo é a principal razão para que grande parte das bandas não durem um ano sequer.
Contudo, o que seria, teoricamente, deficiência, tem se tornado estratégia. Pelo menos no rock de São Luís.
Nota-se verdadeiro fascínio pelos projetos que vivem recomeçando. Quanto menos tempo de estrada a banda tem, mais reconhecimento parece ter do público e da mídia.
Os jornais dedicam capa, as redes sociais pululam, as casas de show se abrem com relativa facilidade.
Parece que ter carreira própria ou querer construir uma viraram sinônimo de fracasso e insistência burra, quando, na verdade, é o oposto: mostram que o fôlego criativo pretende-se inesgotável enquanto der, que os obstáculos não superam a vontade de prosseguir e que será possível, um dia, ser lembrado como autor de obra vasta, que registrou diferentes fases, influências e estilos.
Não fosse assim, o que explicaria que, inquirida a citar nome de cinco bandas famosas, uma pessoa certamente diria Beatles, Stones, Legião, Titãs, etc, e não grupos de verão como Inimigos do Rei, Barenaked Ladies ou Virgulóides?
Mas em São Luís, bacana é começar uma banda nova de tempos em tempos e apresentar-se como “novo projeto”, mesmo que, muitas vezes, as figurinhas sejam as mesmas carimbadas de “projetos” anteriores.
Os astrônomos já resolveram isso. As estrelas “fixas” têm nome, localização e são estudadas com mais frequência; as estrelas cadentes são anônimas, apenas passam e mal deixam rastro no céu.

Mais do mesmo


Inspiração em algo faz parte da vida de todos. Não fazer da inspiração uma cópia, no entanto, é só para alguns.
Vivemos uma fase do rock produzido em São Luís em que não basta ser fã do ídolo, tem que ser igual a ele.
Andam celebrando que este rock finalmente encontrou sua essência autoral, depois da fase das bandas de bares. Autoral, pois sim, mas só se for em relação aos autores já consagrados...
Ainda há, entre crítica e público, remanescentes da mentalidade de que originalidade e fuga do lugar comum são critérios de avaliação positiva de uma obra cultural. Mas estão cada vez mais raros.
O que vemos na São Luís do século XXI é uma subversão: quanto mais parecido é o artista com seu ídolo, mais cultuado ele é.
Há duas hipóteses igualmente aterradoras. Seria o público ignorante quanto à existência dos originais copiados ou seria o público consciente disso e, justamente por isso, cultuador das cópias?
O fato é que bandas que buscam compor e arranjar para somar ao já existente, propondo essência própria, estão perdendo espaço para bandas que buscam compor e arranjar igual ao já existente. 
A voz, teoricamente marca da identidade pessoal, tem sido disfarçada para tornar-se outra identidade, a do ídolo.
Uma questão geracional talvez. Vocalistas trintões têm em sua memória dezenas de timbres de rockstars e sabem situar sua voz em um lugar ainda inabitado. Garotos de 20 anos começaram a conhecer música outro dia e ainda só conhecem meia dúzia de frontmen, gostam de um e simplesmente não conseguem cantar diferente dele.

sexta-feira, 23 de março de 2012

16 anos do CD SEMBLANTES: rock maranhense autoral já tem história



Há 16 anos, era lançado em São Luís o primeiro CD de uma banda de rock. "Semblantes", da Daphne, foi um marco na música maranhense. A Daphne era formada por Alexander Carvalho (guitarra e voz), Nuna Gomes (bateria) Otávio Parga (baixo) e Paulo Pellegrini (teclados), estes dois últimos atuais integrantes da Mr. Simple.
O disco apresenta 12 músicas, todas de autoria da própria banda. Entre 1997 e 1999, deu à Daphne quatro troféus do Prêmio Universidade FM, numa época em que a categoria era simplesmente "Melhor Banda", ocasião em que a Daphne foi escolhida suplantando Tribo de Jah e Sambauê.
Ouça o CD Semblantes em
e assista a um trecho de uma performance da Daphne em
Ou seja, música autoral no rock maranhense é algo que já tem quase duas décadas. E é algo que tem o dedo da Mr. Simple, em tempos passados. Não procede, portanto, um discurso que tem sido comum no rock atual de que o rock autoral nasceu agora no Maranhão.
Antes mesmo do CD Semblantes, a Daphne gravou a música ACREDITAR, uma das faixas deste CD, no estúdio do Pitomba e divulgou nas rádios.
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E qual o problema de não ser "autoral"?
Autoral, em suma, que dizer de autoria própria, feita no suor e calor da música. Mas não precisa ser totalmente assim. A rigor, o que é mais autoral: escrever uma letra e colocar nela uma melodia e uma harmonia que parecem um monte de banda que já existe ou reescrever uma letra e uma melodia e colocar a "cara" da sua banda, deixando a música quase nova?
Versões de músicas de bandas famosas de rock, cantores da MPB, cantores de música brega, xotes maranhenses entre tantas outras, foram também a marca da Daphne. A Mr. Simple manteve esse mesmo espírito músical, fazendo música AUTORAL e transformando clássicos em novos temas e arranjos.
Saquem aí a versão de Você Não Serve Pra Mim, de Renato Barros, com a Mr. Simple
Já fomos repreendidos, pois não tocamos os "coveres" na forma como deveria ser. Ou seja, fomos e somos autorais e parece que não; fizemos e fazemos versões e não somos autorais; e não fazemos covers e deveríamos fazer. Vai entender...